Medidor de Divergência

Um dos melhores animes que eu já assisti, senão O melhor, foi Steins;Gate. O tema, a história, os personagens, o clímax, o desfecho, tudo excepcional. É daqueles animes que você assiste um episódio atrás do outro, querendo saber o que vai acontecer depois. Na verdade, eu já falei sobre o anime aqui, mas vale a pena falar de novo. Eis um pequeno resumo:

Steins;Gate acontece no distrito de Akihabara, em Tókio. Em 28 de julho de 2010, Rintarou Okabe e sua amiga Mayuri Shiina vão para uma conferência no prédio da Rádio Kaikan, quando Rintarou encontra uma garota chamada Kurisu Makise caída em uma poça de sangue. Assim que Rintarou envia uma mensagem sobre o incidente para o seu amigo, Itaru "Daru" Hashida, ele percebe um estranho fenômeno, e todas as pessoas à sua volta desaparecem, e ninguém percebe que nada mudou. Depois de correr de volta para Kurisu, que estranhamente se encontra viva e bem, e descobrir que a mensagem que enviou a Itaru chegou uma semana antes de tê-lo enviado, Rintarou rapidamente deduz que o "Microondas do Celular" que ele e Daru andam desenvolvendo é, na verdade, uma máquina do tempo capaz de enviar mensagens de texto para o passado, e que, fazendo isso, podem mudar o passado e desencadear uma nova sequência de acontecimentos, uma nova linha do tempo.

E há muito mais. São 24 episódios ao todo. Pra mim, é um anime obrigatório pra qualquer pessoa que gosta de animes de ficção científica. Só pra dar credibilidade, é o 3º melhor anime segundo os usuários do MyAnimeList.net.

Voltando à história, para se localizar nas suas viagens no tempo, o "futuro" Okabe desenvolveu um equipamento chamado de Medidor de Divergência, um dispositivo que mede a linha do tempo em que o "atual" Okabe se encontra. A linha do tempo é um número de 1 dígito inteiro e 6 casas decimais, onde o dígito inteiro representa o "campo de atração". Este é como se fosse uma corda trançada, onde todas as linhas do tempo entrelaçadas tendem ao mesmo futuro. Por exemplo, 1.928374 e 1.293485 são linhas do tempo que fazem parte do mesmo campo de atração, o beta (1). Já as linhas 0.382932 e 0.183942 fazem parte do mesmo campo alfa (0). Uma mudança no campo de atração significa uma grande mudança no curso dos fatos.

Explicada a teoria da viagem no tempo usada no anime, vamos ao dispositivo. O Medidor de Divergência é um mostrador da linha do tempo, composto por oito tubos Nixie. Esses tubos surgiram em 1955, e foram utilizados em diversos dispositivos, tais como calculadoras, medidores, e até computadores. São tubos de vidro selados, que contém um gás a baixa pressão, geralmente neon com um pouco de mercúrio ou argônio. Dentro deles são dispostos filamentos incandescentes, que emitem um brilho alaranjado (e muito bonito) quando ligados com alta tensão (170V DC). Estes filamentos possuem diversos formatos, desde numerais (mais comuns) a símbolos (como °C, %). Um tubo pode conter vários filamentos. Os mais comuns são os que possuem os filamentos de 0 a 9, geralmente acompanhados de 1 ou 2 pontos decimais (à esquerda e à direita). Ao lado você pode ver um dos vários modelos. Observe como os numerais são bonitos.

E este é o medidor de divergência do anime:

Então, como você pode ver, são 8 tubos ao todo. O segundo (da esquerda pra direita) só exibe o ponto decimal, e os demais exibem números de 0 a 9. Primeira pergunta: esses tubos existem? A resposta é não, não há nenhum tubo no mundo real igual a esse. Mas isso não impediu que réplicas fossem feitas.

Um cara, que eu acredito ter sido o primeiro a ter construído uma réplica, é o Tom Titor. No seu site, ele faz toda a análise do design, e faz a conversão entre o dispositivo do anime para um dispositivo no mundo real. Ele já construiu várias réplicas, e criou o site com todas as instruções para fazê-lo.

Foi o que me motivou a fazer a minha réplica. E cá estou eu. Até agora, foram R$ 112 por 12 tubos (4 de reserva), R$ 26 pelos chips que controlam os tubos (um pra cada tubo), e mais R$ 50 do resto dos componentes. Eis o estado atual:

Como você pode ver, a parte de cima já está praticamente pronta (nessa foto, o ponto decimal ainda não tinha sido ligado, mas está funcionando). Ainda falta fazer a caixa e a placa de controle, que está na outra ponta desse cabo cinza (parte de baixo).

Não é idêntico ao original, nem se parece com a réplica do Tom Titor (que é bem mais fiel ao original), mas, enfim, é uma réplica da réplica. É a minha versão, feita por mim. E isso é o mais importante. É muito legal quebrar a cabeça com o código (o coração do meu medidor é um microcontrolador, um chip programável), gastar várias horas fazendo a placa, montando, soldando, cortando, ligando e desligando, reprogramando os chips, e levando choque de 170V (true story). Essa é a graça. E, no fim, sempre dá certo.

Por enquanto, devido aos meus afazeres da universidade (matérias pra estudar e um projeto de pesquisa que não vai muito bem), a construção está parada. Mas pretendo retomar assim que possível, e, quando estiver pronto, farei um cosplay do Okabe no próximo evento que acontecer por aqui.

É isso. Veja mais fotos do projeto no meu álbum do Facebook. Até a próxima.

PS: Gravei um vídeo também. Não do estado atual, mas de uma placa de testes que eu fiz antes de montar pra valer. Foi para testar o programa e o circuito.

PS 2: Esqueci de dizer que os tubos vieram da Moldávia (que fica entre a Ucrânia e a România), e os chips da Bulgária (ao sul da România). E teve um módulo conversor de tensão, que veio dos EUA. Longe, não?

Olha só o pacote com os tubos: dois selos de cera. Nunca tinha visto isso na minha vida.